domingo, 24 de janeiro de 2010

Dobrar, como o salgueiro, não dói.... *

Sobre José Saramago sempre me manifestei na forma de “afinador de silêncios”.
Pouca a minha empatia pessoal e quanto à sedução pela escrita como que imposta pela qualidade.
Como tudo que não me empolga e que pode até mover meio mundo, enquanto assim, eu “afino silêncios”.

Uma prenda de Natal, Caim
Li, Caim
Rendo-me, perante a obra.

A escrita envolvente, a análise factual, aceitando-se ou não, é sem dúvida, perfeito de contundente, este livro.
O final com Caim a discutir com Deus causas, efeitos, castigos… ad aeternum assim há-de ser, o homem fora do jardim de éden.
Viva a Eva!

Enquanto leio e dos livros que li, sou meia saltimbanco, meia malabarista, estou sempre a fazer pontes e dar saltos entre as leituras e a vida.

Avé Saramago que me fizeste estar mais atenta para que tanto posso ser Caim como Deus.
"Eles" andam por aqui....
São 19.30h e o fim de um dia com trabalho até um palmo acima da minha cabeça. O estado de espírito é de “locomotiva”.
No hipermercado, vou ao balcão da peixaria. Estão duas pessoas. Decido não tirar senha.
Chega a minha vez, digo à empregada - “Vai-me atender, é a minha vez”
…momento em que por obra e graça, sinto um friozinho e plim! viro Caim! (acontece aos mortais).
No canto esquerdo, oiço uma voz – “Não gosto daquela forma arrogante de falar. Daí valha-me a minha senha. Eu primeiro (mesmo sendo eu depois..) !!!
… momento em que uma fulana igualzinha a mim, dá-lhe um plim! e vira Deus!!! (acontece aos mortais)

Olhei-a, humilde, pecadora.
Não me olhou, olhou o parceiro e justificou-lhe o porquê do meu castigo.

Fiquei Caim.
Ela saiu Deus.

Torce… destorce …
Arruma, direitinho!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Ao pequeno almoço....

Eleanora, disse:
… sei tão pouco de cinema, podia estar mais atenta e após ver um filme, pesquisar um nome ou um acontecimento relacionado com a história.
… ler os clássicos que me faltam e não andar aqui a saltar entre o que me dá na real gana, que tanto pode ser o policial de ontem, como o de sociologia que estou a ler hoje.
… na pintura, na música clássica, na dança, sei o básico e desde que os meus sentidos sintam “sininhos tilintar”, já me encanto.

Eleanora, suspirou:
… pois, mas falta-me o discurso!

E Eleanora, disse mais:
… O que me fascina ouvir-lhes os saberes... como me atrai o conhecer.
… E não pudera eu, pegar numa ponta única do meu tempo e completar-me, preencher-me com esta sabedoria dos livros, das artes?

Eleanora demorou. E depois disse:
O meu lado de fêmea, a minha sensualidade feminina ocupa espaço, tempo, no meu todo.
Não posso, não quero, não abdico de ser, de ter
… o meu lado curva e contracurva
… o meu maneio
… o meu lado mimoso
… a minha pele
… o meu espelho
... o meu decote
Sob pena de me descaracterizar

Seja EU!!!

Eleanora, pousou a chávena de café com leite, sorriu e disse:
… este meu triliar, vai dar “cocó"!!!