domingo, 26 de setembro de 2010

Básicamente.... encaixes!

Quando haviam reparações, pinturas, benfeitorias em casa… lá andava eu “coladinha” ao pai.
Desde pequena que mexo em chaves de parafusos, serrotes, alicates, berbequim, pregos, lixas, etc.
Rolos, pincéis, tintas de água e sintéticas, diluentes - tudo passou pelas minhas mãos.

No entanto, algures num recôndito canto (meus amigos, não sei onde se situa o dito, portanto, não dá para ir lá e escovar o possível “lixo”) habita uma bandeirinha que diz assim:
“Homem é naturalmente dotado para o lado estratégico da vida.
Tem espada ---> Vai à guerra/ Ganha a guerra.
Tal como:
Tem ferramenta ---> Não há o objecto/ Faz o objecto.

Preciso de uma estante com quatro prateleiras.

Ora… não há homem.

Há o eu … decidida a bricolage e ferramenta.
Há o Ikea… sueco deslavado, em pedaços e encaixotado.

E eis:

“Ai que prazer
Ter sido eu a fazer,
Ter um livro para ler
E colocá-lo com prazer
Numa das prateleiras,
aparafusadas bem ou mal.
Esta, a minha edição original.
E vem até uma brisa que cheira,
A uma quase não dor de domingo
Sem a pressa da nostalgia traiçoeira...
..."

Adaptei-me ao poema do Fernando Pessoa.

domingo, 19 de setembro de 2010

Na época do não bem-bom....

Rioblinda está no centro do círculo, com um foco de luz.

Move o braço direito e desabam mentiras e tretas.
Eleva o braço esquerdo e apanha chuva miudinha, molha muito, de egoísmos e perfídias.
Põe-se em bicos de pés e tropeça nas rasteiras.

Caem-lhe agulhas de ponta fina por todos os lados.

Ó tonta Rioblinda que não sabes lidar com estas luzes da ribalta!
Enrosca-te, meditativa, sossegadinha.... e depois de fininho, ou num rompante, some-te do centro desse círculo.

(Imagem da Net)

E ................................ há por aí Rioblindas?

domingo, 5 de setembro de 2010

A porta para Jumandu

Era a porta, a única porta que me levava a Jumandu.
Ao princípio fechada, depois ganhei-lhe a chave.
Mais tarde, a fechadura quebrada…

E no começo ir a Jumandu era clandestino, era o“salto”. Fui a Jumandu!
As idas de ocasião a Jumandu.
O coração num baque. O até imaginar que sentia a alma.

Depois, na minha mão a chave da porta… abre-se quando se pode e fecha-se quando se quer.
Jumandu, já não tem o mesmo Sol da manhã nem a mesma caruma do mato.
Mas alimenta todos os meus sonhos.

Chave gira, chave roda para a direita para a esquerda e não tranca e não destranca.
Fechadura frouxa na porta para Jumandu.
É o entra e sai ….
Jumandu rotina, ora amarela, ora cinza, não azul.
Abro e fecho ao olhos, tapo e destapo os ouvidos... brota fio de água salgada.

Saio a correr de Jumandu. E volto a correr para Jumandu.

Hoje, acordei muito cedo.
Desmanchei a porta para Jumandu.
Não vou mais a Jumandu.

(Imagem da Net)